Montadoras de veículos investem mais de R$ 60 bilhões no Brasil até 2032.

SINDIAUTO/ALVESP – Segundo projeções da Anfavea, a expectativa é de que 2,3 milhões de veículos sejam produzidos até o último dia de dezembro de 2023. Caso esse volume se concretize, o setor deve encerrar o ano com desempenho similar ao de 2022, o que iria contra as projeções anteriores da própria associação.

Esse momento desfavorável se reflete nos investimentos definidos pela indústria neste ano. Ao contrário de 2022, quando alguns aportes vultuosos foram anunciados, as empresas foram mais comedidas. Mesmo assim, as cifras ainda impressionam.

Considerando o anunciado nos últimos anos e os aportes confirmados até outubro de 2023, o volume de investimentos das montadoras em curso passa de R$ 60 bilhões a serem injetados na indústria até 2032.

Confira abaixo todos os investimentos das montadoras de veículos no Brasil:

Stellantis: R$ 16,2 bilhões (2019 a 2025) + R$ 2,5 bilhões (até 2025) = R$ 18,7 bilhões

Em 2023, a Stellantis anunciou um novo investimento de R$ 2,5 bilhões, desta vez em Porto Real (RJ). Apesar dos rumores de que reduziria a produção e até poderia encerrar as atividades da fábrica, a empresa sempre ressaltou a importância da planta herdada do grupo PSA após a fusão com a FCA para sua estratégia comercial na América do Sul.

A montadora diz que a quantia será investida no desenvolvimento de novos produtos (de todas as marcas do grupo, e não apenas Citroën e Peugeot) e adequação da unidade de pesquisa e desenvolvimento.

Do montante total, R$ 330 milhões devem ser aplicados no desenvolvimento de uma variante da plataforma CMP, que atualmente é a base do Citroën C3. Além do hatch, ela servirá ao SUV C3 Aircross (que estreia até o fim de 2023) e de um terceiro produto ainda não revelado. Especula-se que o modelo em questão será um SUV cupê.

Não está descartada a produção de modelos baseados nas plataformas Bio-Hybrid, apresentadas em 2023 e que contemplam projetos de veículos híbridos leves, híbridos plug-in, híbridos e elétricos.

Esse novo montante se soma aos R$ 16,2 bilhões anunciados pela então FCA – Fiat Chrysler Automobiles (FCA), que depois daria origem à Stellantis a partir da fusão com a PSA, em 2018.

Na época, o grupo revelou que os recursos, divididos entre Betim (MG) e Goiana (PE), contemplavam 12 lançamentos. Eram três SUVs, sendo dois Fiat e um Jeep – no caso, os Fiat Pulse e Fastback e o Jeep Commander.

O montante também incluía as picapes Fiat Strada e Ram 1500, além de quatro reestilizações de veículos em linha: Jeep Renegade e os Fiat Argo, Cronos e Strada. Havia também três estreias de produtos inéditos – Ram Rampage, Citroën C3 Aircross e Fiat Titano.

Outra frente do programa é a nova fábrica de motores GSE Turbo em Betim, que desde 2019 recebe investimento de R$ 500 milhões.

A planta começou a produzir em março de 2021 com capacidade inicial de 100 mil unidades/ano. Em uma primeira fase foi iniciada a fabricação do propulsor 1.3 T270 de 180 cv, que hoje equipa os Jeep Compass e Renegade, além dos Fiat Toro, Fastback e Pulse Abarth. Em 2021, foi a vez do 1.0 T200, de até 130 cv, começar a ser fabricado. Este estreou no Fiat Pulse e hoje equipa outros modelos da Stellantis, como o Fiat Fastback Peugeot 208. Até o fim do ano, ele também será encontrado no Citroën C3 Aircross.

Vale ressaltar que, antes da fusão com a FCA na Stellantis, a antiga PSA anunciou, em 2019, aportes de R$ 220 milhões na fábrica de Porto Real (RJ) para iniciar em 2021 a produção de modelos Peugeot e Citroën sobre a plataforma CMP.

O investimento foi confirmado e o primeiro carro feito sobre a nova plataforma foi a nova geração do Citroën C3. A companhia está em fase de definição de um novo ciclo de investimentos, que promete ser o maior entre as concorrentes.

BYD: R$ 3 bilhões

A BYD está em ascensão no mundo inteiro, inclusive no Brasil. Após expandir sua gama de produtos, a empresa investirá R$ 3 bilhões no complexo de Camaçari (BA), que foi devolvido pela Ford ao Governo da Bahia.

Dentro do complexo, a BYD manterá três plantas. Uma delas estará dedicada à produção de chassis para ônibus e caminhões elétricos, enquanto a segunda terá foco na fabricação de automóveis híbridos e elétricos. Já a terceira se dedicará ao processamento de lítio e ferro fosfato para o mercado externo.

Os modelos Dolphin, Yuan Plus e Song Plus serão os primeiros automóveis fabricados no Brasil. O volume inicial deve ser de 150 mil veículos por ano, com expectativa de dobrar a produção em 2025. Para tanto, a BYD já prometeu realizar um novo investimento, de quantia ainda não revelada, e que também servirá ao centro de pesquisa e desenvolvimento a ser feito em Salvador (BA).

A promessa é de gerar cerca de 5 mil postos de trabalho. O início das operações está previsto para o segundo semestre de 2024.

Renault: R$ 2 bilhões (até 2025)

Como continuidade ao ciclo anterior de R$ 1,1 bilhão finalizado em 2022, a Renault anunciou o investimento de mais R$ 2 bilhões até 2025.
O montante será aplicado na fábrica de São José dos Pinhais (PR), onde serão produzidas a nova plataforma CMF-B, que estreará no SUV Kardian, e de um novo motor 1.0 turbo, que equipará alguns dos futuros lançamentos da marca no país.

Caoa: R$ 3 bilhões (até 2028)

Em agosto deste ano, a Caoa anunciou queinvestirá R$ 3 bilhões na fábrica de Anápolis (GO) pelos próximos cinco anos.
Apesar de não ter revelado como gastará este montante, a empresa confirmou que parte do volume será aplicado para ampliar a produção do Tiggo 5X Sport em 150%. A expectativa é de que 800 novos empregos sejam gerados no período.

O grupo fundado pelo falecido Carlos Alberto de Oliveira Andrade já havia anunciado, em novembro de 2020, um investimento de R$ 1,5 bilhão. O ciclo válido até 2023 aproveitava incentivos fiscais para a região Centro-Oeste.

Esses recursos foram revertidos para a fábrica de Anápolis, prometendo gerar 2 mil empregos diretos, adicionais aos 1,6 mil atuais, com a estruturação de duas novas linhas de produção.

GWM: R$ 10 bilhões (até 2032)

Após comprar a fábrica da Mercedes-Benz em Iracemápolis, a Great Wall Motors (GWM) anunciou um robusto investimento de R$ 10 bilhões no prazo de uma década.

O montante será aplicado em duas fases. Na primeira, que vai de 2023 a 2025, a montadora chinesa vai investir R$ 4 bilhões. Além de adaptar a fábrica, a meta é desenvolver fornecedores locais para que os modelos feitos aqui tenham índice de nacionalização de 60%.
Na segunda fase do plano, com vigência entre 2026 e 2032, a Great Wall aplicará R$ 6 milhões para produzir baterias no Brasil. Além disso, a montadora deve lançar a marca de luxo Ora, que produz modelos equipados com conexão 5G, reconhecimento facial e sistemas semiautônomos de assistência à direção.

Toyota: R$ 50 milhões (2022) + R$ 1,7 bilhão (2023) + R$ 150 milhões (2023-2025) = R$ 1,9 bilhão

A Toyota anunciou em 2022 um investimento de R$ 50 milhões para a fábrica de Indaiatuba (SP), destinados para a “renovação do ciclo de vida do Corolla sedã”. A reestilização apresentada em junho trouxe discretas modificações na dianteira e algumas melhorias no interior, que ganhou painel digital com tela de 12,3 polegadas. O sistema híbrido do sedã europeu teve melhorias, mas não se sabe se a Toyota realizará modificações nas versões híbridas vendidas no Brasil.

O facelift deve estrear por aqui apenas no último trimestre deste ano. Segundo a Toyota, o projeto de renovação da fábrica de Indaiatuba começará neste ano e o aporte será aplicado na atualização do complexo com novas tecnologias para a linha de montagem.

Em abril deste ano, a fabricante de origem nipônica confirmou aporte de R$ 1,7 bilhão, que servirá para a produção de um novo SUV compacto com motor híbrido flex na unidade de Sorocaba (SP). O crossover em questão deve ser baseado no Yaris Cross que já existe lá fora e que será lançado aqui em 2024.

Para fechar, em junho passado a Toyota anunciou outro investimento na fábrica de Sorocaba, de R$ 150 milhões, com o objetivo de construir um novo centro de distribuição de peças e acessórios. O armazém terá, de acordo com a companhia, mais de 55.000 m². O projeto tem conclusão prevista para 2025.

Volkswagen: R$ 7 bilhões (2021-2026)

No final de 2021, a Volkswagen confirmou um investimento de R$ 7 bilhões na região até 2026. O anúncio foi feito pouco tempo depois do fim de um ciclo de igual valor lançado em 2017, e que resultou na renovação de sua linha com o lançamento de 20 modelos.

Desta vez, o montante será aplicado no lançamento de modelos compactos de entrada a partir de 2023. Por enquanto, o único projeto confirmado é o do Polo Track, versão com “pegada” aventureira que será produzida em Taubaté (SP), onde hoje são produzidos Gol e Voyage. O carro, inclusive, será o substituto do veterano Gol, que deve sair de cena ainda em 2022.

O novo ciclo de investimentos também prevê a expansão de negócios digitais, além de pesquisas na área de biocombustíveis.
A VW, porém, não detalhou como será realizada a distribuição do montante entre os mercados de Brasil e Argentina. Por falar no mercado argentino, a filial de lá anunciou um investimento de US$ 250 milhões (cerca de R$ 1,24 bi) entre 2022 e 2026.

O montante será destinado à reestilização da atual Amarok (cuja nova geração não será fabricada por lá) e na produção de motocicletas Ducati em Córdoba.

Outra abordagem está na eletrificação, uma vez que a VW está em desvantagem competitiva no Brasil frente a alguns concorrentes, como Toyota e Stellantis.

Essa estratégia já foi iniciada em 2023 com o lançamento de dois modelos puramente elétricos no Brasil ainda neste ano: tanto o ID.4 como a ID.Buzz (que ainda será lançada oficialmente) podem ser adquiridos na modalidade de assinatura.

A fabricante promete ter 15 veículos elétricos ou híbridos no país até 2025. A meta é crescer 40% no Brasil até 2027, e a VW projeta que o mercado da América do Sul crescerá 11% a cada ano até 2030.

Volkswagen Caminhões e Ônibus: R$ 2 bilhões (2021-2025)

Anunciado no fim de 2020, o investimento de R$ 2 bilhões da VWCO é o maior realizado em seus 40 anos de história. Os recursos serão destinados à continuação do desenvolvimento de modelos elétricos e híbridos no Brasil, que foi lançado como o e-Delivery.

A quantia também foi aplicada no desenvolvimento do sistema de emissão Euro 6/Proconve P8, além de melhorias na fábrica de Resende (RJ) e na renovação e lançamento de novas versões de modelos já em linha.

O programa sucede o investimento anterior de R$ 1,5 bilhão de 2017 a 2020, do qual R$ 1 bilhão foi aplicado no desenvolvimento da família de extrapesados Meteor.

Nissan: até R$ 1,3 bilhão (até 2025)

O investimento anunciado em abril de 2022 pela Nissan será aplicado na fabricação de futuros produtos e modernização da fábrica em Resende (RJ). Segundo a fabricante, o objetivo é “desenvolver processos e conhecimento local de engenharia e automação, localização para novos produtos e melhorias na infraestrutura”. Até agora, porém, a Nissan não confirmou qual modelo (ou quais) serão produzidos localmente.

Volvo: R$ 1,25 bilhão (2020-2025)

Os bons resultados obtidos no Brasil motivaram a Volvo a realizar um novo investimento por aqui. A quantia de R$ 1,5 bilhão será aplicada até 2025, sendo a maioria dos recursos voltados para pesquisa e desenvolvimento de produtos e serviços.

Em 2022, a Volvo ampliou em 10% as vendas de cmainhões na comparação com 2021, somando 24 mil unidades. O resultado posicionou o país como o segundo maior mercado global da montadora, atrás apenas dos Estados Unidos.

Já as vendas de chassis de ônibus no Brasil contabilizaram 658 veículos, resultado que representou alta de 80% sobreo ano anterior.

DAF: R$ 395 milhões (até 2026)

A fabricante de caminhões DAF investirá US$ 70 milhões (cerca de R$ 395 milhões) até 2026 para ampliar sua fábrica em Ponta Grossa (PR). O aporte válido até 2026 será utilizado para “impulsionar o atendimento ao mercado nacional e também preparar a marca para exportação de caminhões para outros países da América do Sul”, de acordo com a empresa.

Iveco: R$ 1 bilhão (até 2025)

A Iveco realizará aporte de R$ 1 bilhão na América Latina até 2025. Trata-se do maior investimento já realizado pela montadora na região em 25 anos de operação local. De acordo com o presidente Márcio Querichelli, os recursos serão aplicados no desenvolvimento de novos produtos, manufatura e rede de concessionários.

Scania: R$ 1,4 bilhão (2021-2024)

Anunciado em 2019, o investimento de R$ 1,4 bilhão contempla um ciclo que se encerra em 2024. Os recursos são destinados à modernização da fábrica de São Bernardo do Campo (SP) e ao desenvolvimento de novas tecnologias (incluindo sistemas de combustíveis alternativos e motores Euro 6/Proconve P8). O plano sucede o programa anterior de R$ 2,6 bilhões, de 2017 a 2020, que envolveu o lançamento da nova geração de caminhões Scania no Brasil em 2019.

GM: R$ 10 bilhões (2020-2024)

O programa, anunciado em 2019 para aproveitar incentivos do IncentivAuto, com desconto de até 25% no ICM de São Paulo, foi suspenso em 2020 com a pandemia e retomado em 2021. Os recursos são destinados às fábricas paulistas de São Caetano do Sul e São José dos Campos. Não foram divulgados detalhes, mas sabe-se que os aportes devem ser divididos quase que por igual entre as duas fábricas; São José, que ficou fora do plano anterior, deverá fazer um novo veículo – hoje a planta só produz a picape S10 e o SUV Trailblazer, além de motores antigos e transmissões.

Quanto à fábrica de São Caetano do Sul, a planta foi modernizada e readequada para a produção da nova Montana. Mesmo diante de um investimento expressivo, a montadora está em processo de enxugamento do quadro de colaboradores no Brasil, com demissões feitas por telegrama.

O plano da GM no quinquênio anterior foi de R$ 13 bilhões, usados para renovar boa parte do portfólio de modelos Chevrolet, incluindo o lançamento da nova família Onix produzida em Gravataí (RS), e do primeiro SUV nacional da marca, o novo Tracker que começou a ser montado em São Caetano em março de 2020.

As duas fábricas também passaram por processos de modernização. Em Joinville (SC) foi construída uma nova unidade com mais que o dobro do tamanho da anterior para a produção dos novos motores tricilíndricos 1.0 aspirado e 1.0 e 1.2 turbinados.

SINDIAUTO/ALVESP

Fonte: Automotive Business